Avatar do usuário logado
OLÁ,

Alexis Anastasiou e o sonho do Visualfarm Gymnasium

Conversamos com o diretor criativo sobre a saga de primeiro Laboratório de Artes Imersivas da América Latina, espaço acaba de inaugurar em São Paulo

Por Laís Franklin
Atualizado em 17 jun 2025, 14h13 - Publicado em 16 jun 2025, 14h28
visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visual Farm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)
Continua após publicidade

Imagine tomar um drink inspirado na Mona Lisa enquanto come pipoca e contempla algumas das obras e invenções mais emblemáticas de Leonardo Da Vinci. A experiência sinestésica envolve ainda um passeio por um planetário digital, projeções com trilha-sonora que narra a história de cada obra, video mapping (técnica visual de projeção de vídeos para criar efeitos e animações interativas) com bastidores da vida do artista e mais tecnologias de arte digital. Isso tudo acontece durante uma visita ao Visualfarm Gymnasium, primeiro estúdio e laboratório de artes imersivas que ocupa um generoso galpão de 2 mil metros quadrados com 13 metros de altura na Barra Funda, um dos bairros culturais mais fervidos de São Paulo.

O modelo já é tendência internacional e atrai um público cativo em espaços consagrados como o Atelier des Lumières, em Paris, o Frameless, em Londres e o Lab Borderless, em Tóquio. O espaço brasileiro de artes imersivas é um sonho antigo de Alexis Anastasiou, diretor e fundador do Visual­farm, empresa pioneira no segmento de projeções em fachadas, e demorou uma década para sair do papel. A primeira mostra focada no trabalho de Da Vinci reúne preciosidades como a reconstituição em escala real do refeitório de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde está pintada a célebre obra “A Última Ceia”.

 

Bravo! visitou o local com exclusividade um mês antes de sua inauguração oficial e entrega nesta reportagem especial os conceitos por trás deste novo centro multifuncional (que também pode se transformar em pista de dança ou até sediar palestras e sessões de meditação). Em junho, já está programada a inauguração de “Astro”, exibição de astronomia no Planetário Digital que comporta 500 visitantes simultâneos e, ainda no segundo semestre, acontece a mostra coletiva “Histórias da Floresta”. Descubra a entrevista completa com mais detalhes do laboratório criativo que promete agitar ainda mais a agenda cultural da cidade a seguir:

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visualfarm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)

Bravo! Como surgiu a ideia do Visualfarm Gymnasium e o que veremos neste laboratório de artes imersivas?
Alexis Anastasiou: O Visualfarm é um estúdio de arte e tecnologia que eu fundei há cerca de 20 anos. Eu moro aqui na Barra Funda, no centro de São Paulo, habito esses lugares, e durante anos estava namorando esse galpão. Aqui já foi um depósito de peças, uma editora, quadras de basquete…Agora, estamos construindo uma nova história aqui dentro, uma nova história para o bairro, para o centro de São Paulo. É um espaço de experimentação, por isso chamamos de ‘laboratório de artes imersivas’, onde o Visualfarm pode testar e apresentar exposições, shows, eventos e outros projetos.

Queremos construir uma nova linguagem e ideia do que é uma exposição imersiva, termo que já está muito desgastado. É um trabalho autoral que envolve pesquisa de linguagem e curadoria. A exposição é viva, o espaço é vivo, porque a gente vai tendo ideias e fazendo alterações durante o período expositivo.

Continua após a publicidade

B! Foram dez anos de concepção e projeto. Por que demorou tanto?
Às vezes temos ideias, mas não estamos prontos para realizá-las. Fizemos a captação de recursos para esse projeto em 2015. E, desde então, viemos desenvolvendo as tecnologias, as linguagens de imersão, de espetáculos imersivos, de planetários digitais, de salas imersivas com projeção, de som, de VR (tecnologias de realidade virtual), de inteligência artificial, de aprendizado de usar mais a cenografia…até culminar neste laboratório que chega ao público com esta grande exposição de Leonardo. Levamos tempo não só para desenvolver as tecnologias, mas, principalmente, para conseguir encontrar os parceiros certos.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visual Farm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)

B! Como começou a sua relação com a arte de projetar, ainda nos anos 1990?
Este período foi importante demais. Comecei como VJ no final dos anos 1990 e levei a arte das projeções para raves e festas de música eletrônica. Nesta época eu trocava as imagens com VHS e com um projetor, um computador antigo, ao mesmo tempo que o DJ tocava a música. Então, como VJ, você vai criando as imagens, tocando as imagens de acordo com a reação do público. Naquela época, a ideia de você ter uma projeção sincronizada à música, no palco e tal, era uma ideia revolucionária. Não existia esse trabalho. Quando eu comecei, fazia tudo sozinho mesmo. Montava o projetor, preparava as imagens em casa antes, editava os filmes de VHS da locadora para escolher os trechos, era um trabalho bem analógico.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visualfarm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)

B! O que te moveu a criar a empresa que hoje é referência no segmento de projeção mapeada e em fachadas urbanas de grande escala?
Fiquei bastante tempo focado nas festas e, nesta época, eu alugava os equipamentos às sextas e devolvia às segundas. Até que, em um domingo de testes e estudos pessoais, eu olhei para a cidade e decidi que o que eu queria mesmo era projetar no prédio em frente ao meu, não somente na parede de casa. Foi assim que começou o trabalho do Visualfarm de projeção de fachadas e da construção da empresa. Sempre estivemos muito próximos do desenvolvimento das novas linguagens, das novas tecnologias. Nosso trabalho está muito voltado para empurrar um pouco a fronteira do que é possível e do que é realizado com tecnologia. Hoje temos projeção mapeada, shows de drones, espetáculos com água, espaços imersivos, planetários digitais, festivais de arte, e, agora, finalmente uma sede, nosso laboratório para a criação das experiências imersivas.

B! Por que abrir este laboratório com Leonardo Da Vinci?
Leonardo é uma figura humana especial multitalentosa. Ele esteve muito à frente do seu tempo, não só na sua linguagem estética, como na pesquisa científica de engenharia. Mas queremos apresentar a vida secreta de Leonardo. A vida vegetariana de uma pessoa que questionava os costumes, que era artista mas também músico, que gostava de se divertir, que declamava poemas na corte e ainda fazia desfiles de carnavais. Ele foi uma pessoa que trouxe muita riqueza para a humanidade e, muitas vezes, pela questão institucional ou comercial, não se fala muito sobre isso, e dissemina-se aquela visão já conhecida e limitada da figura do Leonardo, pintor e engenheiro militar. A gente acredita na liberdade das pessoas, na fruição, na arte, na compreensão do outro, acredita em comprar pássaros presos em gaiola e soltar, que era o que Leonardo fazia. Então, esse espaço, ele expressa também os valores do bairro, os valores do centro de São Paulo, os valores humanistas que ele expressava.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visual Farm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)
Continua após a publicidade

B! Já foram feitas muitas mostras e exposições, inclusive de arte imersiva, sobre Leonardo Da Vinci. O que esta tem de especial e inédito?
A gente propõe que o público siga as etapas da vida de Leonardo e as criações, as influências que ele foi tendo nesses momentos. Fizemos uma mistura de cenografia, maquetes, reconstruções, réplicas, vários tipos de espaços imersivos. Tem um planetário, tem um grande salão imersivo, tem VR, tem pequenos nichos com quadros mapeados. E a gente tem uma área especial também, que é a vida secreta do Leonardo, uma área que tem um monte de informações de bastidores sobre a vida dele que não costuma ser contado em exposições. Temos outra área toda focada nas criações de teatro e carnaval e espetáculos que ele teve, que é um trabalho especial e também, infelizmente, ainda pouco falado. Tem tudo a ver com o Brasil. Então, essa exposição de Leonardo, para quem ama, para quem está conhecendo pela primeira vez, vale a pena vir, conhecer e reconhecer como se estivesse na mente dele.

B! Conta mais sobre o núcleo da vida secreta de Leonardo?
Essa sala será uma sala secreta que o público terá que descobrir ao longo do percurso. A exposição tem uma visão muito mais de se aproveitar do espaço e de propor a fruição. Leonardo era uma pessoa que tinha uma vida pessoal de certa forma extravagante. Para a época, talvez até hoje ainda seria extravagante, ele se vestia com cores berrantes, rosa, laranja. Ele era um tipo de pessoa que ia no mercado, comprava pastos engaiolados e soltava. Era uma pessoa vegetariana no século XV. Tudo indica que ele era homossexual também. Ele foi preso por pederastia, mas não foi condenado. Tinha relacionamentos com aprendizes que não são completamente esclarecidos. Mas não é só isso. Por exemplo, ele tocava lira e estamos reconstruindo esse objeto. Ele tinha uma vida muito mais ampla do que se fala, do que a gente conhece.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visual Farm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)

B! A mostra tem uma dedicação especial para a parte sonora.
É bem inclusiva neste sentido. Exatamente. A sala imersiva tem duas modalidades. Você pode ver as projeções com a trilha sonora ambiente ou pode colocar o fone de ouvido com uma locução guiada explicando o que está acontecendo naquele espaço, qual é a história de determinada obra, invenção ou arquitetura. Nossa proposta é que você possa ter duas experiências de visitação: uma com mais informação e outra mais contemplativa.

B! Qual é o percurso que vocês imaginam? Quanto tempo que se consegue ficar na exposição para ver todos esses cantinhos até os escondidos?
A ideia é que você fique de 80 minutos a duas horas, dependendo se você quiser sentar e tomar um drink e aproveitar. Você tem os conteúdos até para mais de duas horas. Se você quiser investigar, você for uma pessoa que realmente, como eu, é apaixonado pelo Leonardo. O espaço tem um tratamento acústico muito cuidadoso, imenso, uma engenharia acústica especial. Ele tem todo um cuidado com a climatização, as projeções, a iluminação, o percurso das pessoas. A gente apresenta para as pessoas vários tipos de imersões diferentes. Fomos para a Itália gravar com drones imensos com seis câmeras apontadas em várias direções para que o público possa, via óculos VR, fazer o sobrevoo da casa do Leonardo. Demoramos mais de um ano criando estes conteúdos.

Continua após a publicidade

B! Esta é a segunda vez que o Visualfarm faz uma mostra sobre Leonardo Da Vinci. “Os Mundos de Leonardo da Vinci” recebeu mais de 100 mil visitantes em 2023. Qual é a diferença desta para a anterior?
Tivemos uma primeira edição desta exposição há dois anos e agora estamos reconstruindo inteiramente uma nova exposição, com uma nova abordagem curatorial. São mais conteúdos e mais experiências em um espaço específico para isso. A princípio, a gente pretende ficar aqui até julho. E já temos mais três exposições sendo preparadas simultaneamente.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
(Ignacio Aronovich/divulgação)

B! Além de exposição, o Gymnasium também prevê uma experiência gastronômica, um programa cultural completo. O que podemos esperar nesse sentido?
Teremos um bar, um restaurante aberto para a rua e para a Praça Olavo Bilac focado na gastronomia tailandesa. Na entrada, teremos um bar com sorvete, drinks e café. Dentro do Gymnasium teremos outros dois outros locais para pipoca e drinks. Temos ainda o bar mirante, que é um mezanino com seis metros de altura, com drinks autorais de acordo com cada exposição.

B! O que você pode adiantar sobre essas próximas mostras do Visualfarm Gymnasium?
“Histórias da Floresta”, que abriremos no segundo semestre, é bem especial para mim. A mostra é fruto de uma pesquisa de três anos de viagens percorrendo o Brasil todo. Queremos propor os encontros de brasileiros com seres fantásticos. Gravamos no interior do Paraná, interior de São Paulo, na Amazônia Profunda e entrevistamos pessoas que tiveram encontros com lobisomem, saci, boto, cobra-grande. Estou imerso nesse universo. Estamos colhendo esses depoimentos e vamos recriar os encontros com experiências imersivas. É uma exposição que vai falar sobre a cultura brasileira, mas usando muita antropologia e registros históricos também.

Meu trabalho aqui está sendo um pouco como técnico de futebol. É uma criação integrada com as melhores pessoas em suas áreas para fazer algo inédito. E sem a pressão que às vezes temos em projetos comerciais ou institucionais. Aqui a gente tem muita liberdade, é um projeto independente. Ou seja, temos um time especial e potente com uma liberdade criativa e desenvolvimento. E agora a gente vai apresentar o nosso trabalho para a cidade.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visual Farm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)
Continua após a publicidade

B! O que falta para termos mais espaços de laboratórios de criação como esse?
Precisamos abrir espaço para um trabalho mais autoral dentro das exposições e ter espaços não institucionalizados. Ao longo desses 20 anos de carreira, aprendi que para inovar você tem que se permitir errar às vezes. E os espaços institucionais muitas vezes não permitem esse erro. Por isso que fica tudo congelado. Os estúdios estão precisando montar o seu próprio espaço para apresentar trabalhos menos engessados — e acredito que esse seja um caminho e tendência global. Como uma pessoa criativa, gasto muito tempo convencendo as pessoas a deixarem eu fazer uma ideia. Aqui teremos projetos que normalmente não conseguimos fazer dentro dos espaços convencionais e comerciais. Muitas vezes tem ideias que são muito malucas e fora da caixinha que os patrocinadores só vão te apoiar depois que der certo, não quando ainda é um projeto no papel, entende? Então ter esse espaço é ter a liberdade criativa de executar essas ideias e apresentar esses trabalhos para a cidade e para o bairro. Quando a gente tem o nosso espaço, a gente não precisa mais convencer ninguém, a gente vai lá e faz de maneira independente. E arruma e faz e melhora e fica em constante evolução.

visualfarm-gymnasium-exposiccao-imersiva-projecao-cinema-leonardo-da-vinci
Visual Farm Gymnasium (Ignacio Aronovich/divulgação)
Leonardo da Vinci na Visualfarm Gymnasium

Visualfarm Gymnasium | Praça Olavo Bilac, 38 | Campos Elíseos | São Paulo – SP | próximo à estação do metrô Marechal Deodoro | Acessível para pessoas com mobilidade reduzida
Quarta e quinta-feira: das 12h às 22h. Sexta, sábado, domingo e feriados: das 10h às 22h (última entrada às 21h)
Ingressos:
De quarta a sexta-feira: R$ 60 (inteira) / R$ 30 (meia)
Finais de semana e feriados: R$ 70 (inteira) / R$ 35 (meia)
Ingressos online na plataforma FEVER e bilheteria física no local

 

Publicidade